sábado, 14 de abril de 2012

COMO SE FORJAM CAVEIRAS: A TROPA DE ELITE...

Como treinar um homem para que se torne um combatente? Como fazer com que ele resista a fome, ao frio, intempéries, frustrações, medo e tudo aquilo que corrói o psicológico e o físico de um um ser humano no campo de batalha, onde sua vida está em risco?


É simples, leve-o ao limite. É nisso que se baseia um curso de Operações Especiais.

Enfrentar a morte… e vencer.

Grande parte dos cursos desse tipo têm em seus brevês o símbolo da caveira com uma faca, ou outro objeto, cravada no crânio. Esse simbologia representa a vitória sobre a morte. Este é um dos conceitos que são pregados durante todo o curso. Fazer o combatente, ou aspirante a “caveira”, crer que é capaz de enfrentar a morte e sair vitorioso é parte da filosofia que deve ser absorvida por sua personalidade para que seja capaz de cumprir as mais difíceis missões.




Na verdade, a grande diferença existente nos demais cursos para o de Operações Especiais é que neste último não são apenas as técnicas e a preparação física o foco de treinamento, mas também o fortalecimento da psique por meio de simbologias (como a caveira) e outros artifícios como um vocabulário próprio, valores específicos e a sensação de fazer parte de uma família de membros selecionados nos mais rigorosos testes.


Ou seja, um soldado treinado em Operações Especiais é diferente dos demais, mesmo que apenas no psicológico – e isso faz toda a diferença.

Geralmente os aspirantes ao curso já são atletas, pois passam por uma seleção rigorosa, na qual sua capacidade física é levada ao extremo. Durante o curso, porém, toda essa capacidade é apenas um dos atributos requeridos. Imaginem privação de sono, fome, treinamentos intermináveis, terror psicológico e a necessidade de estar sempre alerta para o perigo; isso é o cotidiano de um curso dessa natureza.

De que vale a técnica se na hora do combate (em meio a tiros e ameaças reais) não agirmos, se imergirmos em estado catatônico pondo em risco a vida de companheiros que contam com nosso apoio? É por isso que o curso deve preparar o homem para a pior das situações.

Como funciona o treinamento especial


Durante o curso não há graduações ou patentes. Todos os candidatos são colocados no mesmo patamar, como candidatos, independente das funções que desempenham em sua corporação ou tempo de serviço.


Exercícios intermináveis pela noite, marchas que duram dias, frio, fome e sono… Misturam-se a instruções de sniper, emboscada, defesa pessoal, conduta de patrulha, montanhismo, sobrevivência no mar, primeiros socorros, armamento, situações com reféns e diversas outras situações de risco e disciplinas pertinentes.

Durante o curso os candidatos dormem em qualquer lugar, comem quando tem a oportunidade e sua única preocupação é a sobrevivência. Existe um jargão que reflete bem esse pensamento:

“Se mandarem sentar, deite.

Se mandarem deitar, durma.”

Ou seja, aproveite todo e qualquer momento de descanso, você não sabe quando terá outro.

Um operações especiais deve ter um psicológico inabalável e um condicionamento físico de atleta. É lógico que o fator sorte também conta muito, afinal ninguém está a salvo de ficar doente durante um curso tão árduo e longo. A duração de um curso de operações especiais varia bastante, mas geralmente é entre 6 e 8 meses.




Eles existem em diversas organizações policiais e militares. No Brasil podemos citar alguns, como o Comandos, um curso de Operações Especiais do Exército Brasileiro, sem dúvida um dos mais difíceis do mundo. Ele é seguido pelo curso de Forças Especiais, no qual os caveiras precisam demonstrar ainda mais sua capacidade física, intelectual e psicológica.


Temos também o COMANF, da Marinha Brasileira, com ênfase na parte de sobrevivência no mar, e o COESP, da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, com ênfase no combate urbano.


Outras polícias militares do Brasil também possuem cursos de operações especiais, como a da Bahia e de São Paulo, entre outras. O curso mantém um padrão internacional de exigência. Podemos encontrar este tipo de curso em outros países, como a Colômbia, com quem as polícias militares e o exército brasileiro mantém convênio.

Não sou formado em operações especiais. Mas durante o curso de Formação de Oficiais fomos convidados a realizar um estágio com o Batalhão de Operações Especiais – o BOPE. Isso não se compara com o verdadeiro Curso de Operação Especiais (COESP), mas já dá um aperitivo do que pode se esperar em um COESP.





Confesso que não é nada fácil. Lembro da adrenalina em alta o tempo todo, da caminhada interminável, do frio e das instruções. O cansaço já fazia parte do nosso corpo e a sensação de alerta se refletia nos olhares assustados de todos. Sem dúvida este é uma experiência para poucos.



Fonte: Thyago Ferreira, Oficial da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Amante de armas, explosivos, operações de inteligência, guerra eletrônica e coisas do gênero.